
Title | : | AvóDezanove e o Segredo do Soviético |
Author | : | |
Rating | : | |
ISBN | : | 9722119826 |
ISBN-10 | : | 9789722119825 |
Language | : | Portuguese |
Format Type | : | Paperback |
Number of Pages | : | 198 |
Publication | : | First published January 1, 2008 |
Awards | : | BTBA Best Translated Book Award Fiction Longlist (2015), Prêmio Portugal Telecom de Literatura (2010), Prêmio Jabuti Juvenil (2010) |
AvóDezanove e o Segredo do Soviético Reviews
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Memorial/Mausoléu Dr. António Agostinho Neto - Luanda - Angola
”A explosão até acordou os pássaros adormecidos nas árvores e os peixes devagarosos no mar (…)
Era afinal uma explosão bonita de ser demorada nos ruídos das cores lindas que os nossos olhos olharam para nunca mais esquecer.
(…)
Foi na PraiaDoBispo, no largo onde havia a bomba de gasolina, perto da entrada da famosa obra do Mausoléu.
(…)
De tanto olharem as cores com barulhos voadores no céu iluminado, poucos notaram que a enorme obra, que os mais-velhos diziam ser vertical, alta e com figura de um foguetão, essa obra de tantas tarefas como poeira e mil trabalhadores cansados, tinha começado a não existir mais, sobrando apenas uma poeira cinzenta que demorou muito tempo a baixar.
Tudo aconteceu muito perto de casa da minha AvóAgnette, mais conhecida na PraiaDoBispo por AvóDezanove.
Foi um tempo que os mais-velhos chamam de antigamente.”
O monumento é real – como se verifica pela fotografia. O imponente “obelisco/foguetão” – com cerca de cento e vinte metros de altura -, foi erguido no início dos anos 80 como homenagem ao primeiro presidente de Angola, o comunista Agostinho Neto. Apesar dos factos e dos acontecimentos descritos terem uma génese factual e concreta, o escritor Ondjaki (n. 1977) ficciona-os com uma escrita única e original.
O jovem narrador, sem nome, vive na zona da PraiaDoBispo, uma área da cidade de Luanda. Estamos em meados dos anos 80, com a guerra civil angolana, os acontecimentos políticos, sociais e económicos, o colapso da União Soviética, conjugado com o declínio das relações económicas entre Angola e Moscovo e as relações com Cuba.
Ondjaki constrói um romance com personagens deliciosamente originais, peculiares no comportamento, na linguagem e nos diálogos. Crianças que evidenciam uma sinceridade genuína, quase sempre ingénua, numa multiplicidade de acontecimentos, enquadrados em Luanda, uma cidade multirracial e multicultural. A vertente ficcional satírica e as referências líricas, associam-se a diálogos brilhantes e espirituosos, nomeadamente, na utilização do “portunhol”.
”AvóDezanove e o Segredo do Soviético” é um óptimo “dexplodir” literário. -
Ondjaki voltou a enternecer-me e a fazer-me suspirar de encantamento com a sua linguagem carregada de luzes, cores, magia e beleza!
Depois desenvolvo melhor!
Obrigada, Carlinha Tomé, pelo empréstimo! -
Já várias vezes falei das obras de Ondjaki, das personagens que lá vivem, da forma como o autor retrata a infância, do modo inexplicável e inconfundível de descrever sensações (gosto particularmente das referências ao olfacto). O autor consegue descrever a saudade e as despedidas com uma sensibilidade extrema, mas de uma forma doce que faz parecer que alguém nos está a cantar a história ao ouvido.
Este foi o sexto livro de Ondjaki que me passou pelas mãos e, tal como os restantes, deixou saudades assim que virei a última página. Saudades do Espuma-DoMar o matemático maluco que tinha um jacaré no quintal, do Pinduca, o Pi ou 3,14 como era conhecido no bairro, do narrador sem nome e da sua paixão por filmes de cowboys, da AvóAgnette e da sua característica peculiar, do Camarada VendedorDeGasolina que podia dormir muito porque a bomba nunca tinha gasolina, da Avó Catarina que só aparecia quando queria e que não deixava nada por dizer, do soviético camarada Botardov que tinha esse nome "por causa do modo como ele dizia, quase a falar soviético, "bótard", mesmo que fosse de manhã cedo ou à noite já bem noitinha”.
Esta é a história da construção do Mausoléu na PraiaDoBispo, o monumento destinado a albergar o corpo do falecido presidente Agostinho Neto, mas é principalmente, a história daquele lugar, das pessoas que lá habitam, adultos e crianças que partilham o desejo de continuar a correr pela PraiaDoBispo.
"A Avó me mandou um beijo voado, beijado na mão dela a sorrir, acho que a dança lhe fez bem, a cara dela parecia mais calma e até caminhava melhor. Era o milagre da música, como dizia o Espuma-DoMar: - Os meus pés conhecem a verdade que o meu coração sente quando os meus ouvidos sorriem. A música é o milagre que os comunistas já autorizaram de acontecer, ahahah. A bailar, compañeros.
Tenho-me deliciado a ler os livros de Ondjaki, não há dúvida de que é um dos mais brilhantes escritores lusófonos da actualidade.
Opinião no blog:
http://clarocomoaagua.blogs.sapo.pt/o... -
Há livros que surpreendem. Eu não conhecia sequer este, nem o título, nem a capa, nem o autor (embora tenha a sensação que já tivesse ouvido o nome dele aqui e ali). De resto, nunca tinha visto sequer de relance esta obra. Recebi-a no Natal, e achei graça, porque era o segundo livro de um africano de língua portuguesa que recebia no mesmo dia. Gostei tanto de Jesusalém, que decidi que este seria o seguinte. E há livros que surpreendem.
Não foi o enredo que me fascinou, penso eu, visto ser muito simples, e claramente centrado numa criança, cujos objectivos são brincar, descobrir o mundo; e, quase consequentemente, a história não é muito orientada por um objectivo. Vamos avançando lentamente... está a ser construído um Mausuléu pelos russos, que «invadiram» a PraiaDoBispo, em Luanda. O narrador e o amigo Pi querem evitar a conclusão da construção.
O que realmente me fez agarrar este livro com tanta ternura à medida que o ia desfolhando foi (para além da capa, que na minha opinião está espetacular) a forma de escrever de Ondjaki. A linguagem usada pelas personagens torna-se familiar para o leitura à medida que se lê... o mundo visto de uma prespectiva mais baixa é sempre interessante de ser lido... mas... mas o ponto fulcral foram as descrições: acho que nunca tinha lido descrições tão sentidas, cheias de cores, sons, sensações diversas, tuodas estas coisas misturadas com a emoção do momento. Isso foi, de tudo, o que mais me saltou à vista!
Uma obra que pode ser lida por todas as idades, dos 8 aos 80. Deixa muito no ar, para pensarmos e tentarmos adivinhar o que aconteceu a partir da última linha com todo o leque de personagens que nos foram aos poucos sendo apresentadas. Devo confessar que apenas o título não é do meu agrado. De resto, uma leitura cheia de ternura. Aconselho.
Personagem Preferida: A AvóAgnette (ou Dona Nhéte, ou AvóDezanove) é claramente uma típica avó, e, como todas as avós do mundo, confortam mesmo só a ler.
Nota (0/10): 8 - Muito Bom
Mais em:
www.lydoeopinado.blospot.com -
It is a wonderful story about a child living with his Grandma 19, his friends, neighbours and the danger of being forced to leave the place. The president decided to engage Russians in building a mausoleum for the national hero Neto in the outskirts of Luanda where the main character lives. There is a rumour that the entire district would be destroyed to make space for the building and the parks.
The language of the story is beautifully imaginative, but not pompous, not very poetic. The world through the eyes of the little boy is almost magical (even though there is no real magic in the book). However there is a deeper meaning in the story (even though the child-narrator does not realise). It depicts some "cruelties" of the world, for example the longing.
It is a very engaging read, which made me want to read more of Ondjaki's books. -
Este é mais um livro em que Ondjaki nos brinda com personagens já nossas "amigas": a criança que conta a história na primeira pessoa, a Avó Agnete, que neste livro ganha a nova alcunha de Avó Dezanove, a Charlita e o Sr. Tuarles, e outros personagens "castiços" como o camarada socviético Botardov - pois dizia sempre "Bótard" ao cmprimentar as pessoas!
Excelente...
Mais uma vez, é bem mais agradável ler estas história contadas numa fresca voz infantil mas mesmerizante de encanto e cheiro da terra, que os livros quiçás mais "intelectualizados" em que Ondjaki prova saber fazer acrobacias com as palavras, mas onde perde esta fresca voz.
Este adorei, vale mesmo a penas ler!
Maria Carmo
Lisboa 6 de Janeiro de 2012 - Dia de Reis. -
4.5 Estrelas
A minha estreia com Ondjaki foi fabulosa! A leitura foi simplesmente hilariante e as últimas páginas foram extremamente comoventes numa verdadeira ode à infância. Quero ler mais do autor sem qualquer dúvida! -
▫️GRANMA NINETEEN AND THE SOVIET'S SECRET by Ondjaki, translated from the Portuguese by Stephen Henighan, 2008/2014.
1980s Luanda, Angola // a fictional child's view of war and displacement, of adventure and humour amidst tragedy. Angola's Civil War is the back drop here, but the focus of this story is not at the front, rather its hyper-local, what is happening in their neighborhood - with a blend of characters (from Angolans, plus USSR, Cuba, Portugal ) that show the culture and blend of Angola at this time.
The unnamed narrator is a young boy who lives with his grandmother in a seaside neighborhood. Their area is the chosen location for a gargantuan mausoleum, built by the Soviet military, to house the remains of Angola's first president, Agostinho Neto.
The looming futurist / phallic mausoleum PLUS the planned displacement of their homes hatches a saboteur plot (no spoilers - this is the very first page of the book!) The narrative turns into an 80s/90s childhood adventure story, e.g. The Goonies, Red Dawn, and Honey, I Shrunk the Kids.
Funny nicknames, silly plots and situations... yet this understanding of what is happening to both the neighborhood and the country at this time as multinational powers slice and dice, and try to take their piece of a country and people that have been depleted for centuries through colonialism and war.
Just like the young narrator of GRANMA, writer Ndalu de Almeida (pen name Ondjaki) was raised in the Angolan capital during the country's protracted Civil War. He has several books in Portuguese and three books and multiple stories available in English translation. His most noted title is Os Transparentes / Transparent City - eager to read that one at some point. -
Tato knizka mi urobila fakt dobre. Celkovo mam slabost pre pribehy rozpravane z detskej perspektivy a tato mala knizka je velmi prijemnou formou escapismu z nasej sedej dospelackej reality.
Na par dni som sa ponorila do sveta detskej fantazie, naivity a snov, v ktorych je mozne vsetko, dokonca aj vyhodit do vzduchu obrovske sovietske mauzoleum.
Ondjakiho styl mi strasne zapasoval, ciste detske rozhovory, miesane s humorom a krasnym myslienkami prichadzajucimi od neskutocne zaujimavych postav ako blazon Morska Pena, sudruh Dobrovečer, babka Catarina ci laskava babka Devatnastka. A este sa to vsetko deje v postkolonialnej Angole co je moja srdcovka samo o sebe.
Tesim sa na dasie veci od Ondjakiho :) -
Loved this. Read the end in public, would have cried if I'd been at home. A unique voice for this 10 (or so) year old narrator, at time so childlike and at times so grown up... but believable. Also, when you don't know anything about a story's setting (Angola) it's hard to tell if the story is realistic or not... the balance between the real and the fantastic is so good.
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- estórias de antigamente é assim que já foram há muito tempo?
- sim, filho
- então antigamente é um tempo, avó?
- antigamente é um lugar
- um lugar assim longe?
- um lugar assim dentro -
3.7 ⭐️⭐️⭐️
Parece mais um conto de fadas baseado da infância do autor. Lindo, fantástico, cheio da saudades. O livro tem no pano do fundo a visão dos habitantes de Luanda aos soviéticos e cubanos que estavam vivendo lá é construindo o mausoléu do Presidente Agostinho Neto; a visão que se mostra pela variedade linguística (do que eu gosto). -
eu juro, esse livro me arrancou gostosas risadas. mais uma vez a instituição narradores infantis de livros não-infantis prova ser a maioral.
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Coming of age story from an Angolan author. “A warm, rich, worthwhile read”.
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Ler Ondjaki é sempre muito prazeroso, pois através das suas estórias - essa mistura de realidade, sonho e ficção - consegue me transportar para “aquele lugar assim de dentro, o antigamente” da minha infância.
Leitura muito leve, engraçada e que, como já é característico, nos enche de esperança e nos relembra do poder das cores, da magia e da inocência do que é ser criança. -
the third book from the young angolan writer to be translated into english, granma nineteen and the soviet's secret (avódezanove e o segredo do soviético) is a charming, spirited tale of youth, loyalty, and purposeful mischief. ondjaki's story, set in the capital city of luanda during the 1980s, features a motley cast of memorable characters intent on disrupting soviet plans to build a mausoleum and displace the neighborhood residents. told with vivid, evocative imagery and lively, poetical prose (and humorous vernacular), granma nineteen and the soviet's secret is a rich, colorful, and remarkably entertaining novel from a promising talent honored earlier this year as one of the hay festival's africa39 writers.
the explosions woke up even the birds asleep in the trees and the dozy fish in the sea. colours came out that had never been seen before: yellow mixed with red pretending to be orange in a bluish green, flares that mimicked the strength of the stars reclining in the sky and a warlike rumbling of the kind made my mig planes. in the end it was a beautiful explosion that lingered in the noises of the pretty colours that our eyes looked upon and never again forgot.
we, the children, stood looking at the illuminated marvels that filled the sky as though all the rainbows in the world had come running to drink a toast on the ceiling of our dark city of luanda.
*translated from the portuguese by stephen henighan (ondjaki's good morning comrades) -
Fajn kniha, prvá o Angole, ktorá sa mi dostala do rúk. Z detskej perspektívy rozpráva príbeh z luandskej štvrti Praia do Bispo, kde sa s ruskou pomocou stavia mauzóluem pre prvého angolského prezidenta, Agostinha Neto. Má to svoj humor aj dobrodružstvo, a hoci detský rozprávač nie je moja šálka kávy, čítalo sa to dobre.
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Delicioso.
E vai falar ao coração de quem tem alguma relação com Angola.
O que eu gostei da parte dos jacós :) -
https://mariannainafricapl.wordpress.... -
Uma das melhores leituras deste ano!!
Opinião completa no blogue:
http://flamesmr.blogspot.pt/2016/05/l... -
Ondjaki vai desfiando suas vozes como quem desfia um novelo há muito guardado. Há momentos de fácil desenrolar, quando a linha parece querer escapar dos dedos e as vozes tomam seu rumo por conta própria, correndo como os garotos a buscarem a alegria na espuma da praia. Há outros em que surgem emaranhados, nós apertados que interrompem o livre deslizar, no mesmo ritmo da infância que não quer crescer para não se transformar em “mais-velhos”. “As coisas antigas não têm muita graça de rir”, diz um dos personagens. E o autor vai brincando com o tempo como o tempo brincava com os moradores daquele vasto mundo dentro de Luanda: “Está muito escura a PraiaDoBispo, não sei se o tempo vai querer passar por aqui” . E então, “o tempo tinha decidido que já podia passar”.
O livro vai buscar no dia-a-dia da PraiaDoBispo cores, cheiros, sabores e sonhos tão locais e, por isso, tão universais, alterados pela presença indesejável dos soviéticos “lagostas azuis”, que vieram do “tão-longe” mudar o que era perfeito. Apesar e além dos conflitos políticos, as crianças mostram um viver com esperança e humor, achando graça até mesmo nos momentos mais difíceis. AvóAgnette, Charlita, AvóCatarina, Dona Libânia, EspumaDoMar, Pi (ou 3,14), VendedorDeGasolina, CamaradaBotardov são personagens que conhecemos pelo olhar do narrador, que acha estranhos “os mais-velhos que fazem coisas repetidas todos os dias apesar de saberem que há coisas que não mudam”.
As brincadeiras na PraiaDoBispo são atropeladas por guardas, proibições, dinamites. Mas, conhecendo sua terra como ninguém, as crianças vão burlando limites e limitações, físicas e pessoais, para salvar o seu pedaço do paraíso. Isso sem deixar que os adultos as subestimem por sua condição: “e eu lembrei dos mais-velhos, de tantos mais-velhos que eu já tinha conhecido e que não sabem às vezes acreditar nos segredos simples das crianças”. Segredos que fazem dessa uma história para ser lida com os ouvidos. Explico: a escrita de Ondjaki tem ritmo e melodia como se as palavras dançassem uma cantiga angolana de antigamente, esse tempo mais conhecido como um “lugar assim dentro”, que nos remete a uma infância que sequer é nossa – talvez porque, no fundo, todas as infâncias se assemelham, sejam quais forem seus personagens e cenários. Faz parte dessa dança um jeito malemolente de nomear as coisas de outra forma que não a pela qual são conhecidas: “acho que as lembranças são cócegas invisíveis que ficam dentro das pessoas”. E ainda, “essa coisa linda que todos os dias me ensinava a cor azul: o mar grande, mais conhecido por oceano”.
Ao escolher falar para os jovens, Ondjaki recria uma época e um jeito de ser que emociona especialmente os adultos, “como fazíamos às vezes, debaixo de água, a rir de contentes, nessas vozes molhadas de gritos nenhuns e brincadeira inventada e descoberta à toa, até um dia alguém ter dito que esses eram 'gritos azuis'”. Se o autor busca na memória ou na imaginação os fatos relatados, não faz diferença, afinal só é memória enquanto ainda está esquecida. O que um dia pode ter sido memória, hoje é narrativa e, como diz o neto da AvóDezanove: “as estórias boas de contar são as que nós inventamos”. -
Nous sommes en Angola, après la guerre civile, dans un quartier de la banlieue de la capitale Luanda. Non loin de là, des coopérants soviétiques participent à la construction du gigantesque Mausolée qui abritera la momie du père de la révolution angolaise, Agostinho Neto. La suite logique est la modernisation de cette banlieue jouxtant le Mausolée et surtout situé en bord de mer et qui dit modernisation dit restructuration et donc démolition des habitations et par voie de conséquence déplacement, ailleurs, des habitants. C'est que les bords de mer, c'est intéressant pour les promoteurs immobiliers !
Ondjaki, l'auteur, peint le portrait du petit peuple vivant dans ce quartier pauvre et pittoresque doté de personnalités hautes en couleurs. Au nombre desquelles se trouvent GrandMèreAgnette, l'aïeule d'un des jeunes héros du roman, GrandMèreCatarina, VendeurD'Essence, qui ne peut jamais vendre d'essence faute de ravitaillement, EcumeDeMer, le vieux fou qui se baigne chaque jour dans la mer malgré les interdictions, VieuxPêcheur et sa barque traditionnelle, Charlita et Pi dit TroisQuatorze, les meilleurs copains du narrateur. Ne pas oublier les perroquets braillards agonisant les gens de grossiertés et de slogans révolutionnaires.
Le quartier vit au rythme de la course du soleil dans le ciel, les enfants jouent librement, enfin pas trop car il y a toujours un adulte pour avoir un œil sur eux.
L'électricité est absente sauf chez GrandMèreAgnette car le CamaradeBotardov, dont le vrai patronyme est Bilhardov, l'apprécie et a établi une dérivation depuis le site du Mausolée.
Cet officier russe aime les gens du quartier malgré le fossé séparant les deux cultures. Il essaiera de les prévenir du projet de modernisation mis en place par les dirigeants.
Le récit est celui d'un jeune enfant, avec ses perceptions, son imaginaire et sa vision du monde. La chronologie n'est pas linéaire, tout s'imbrique, se démêle et se mêle au gré des souvenirs qui surgissent. Ce qui fait la force de la narration, et donc du roman, c'est que tout reste cohérent.
Le jeune narrateur et ses amis s'insurgent contre le projet dont l'ampleur ne semble pas ouvrir les yeux des adultes. Les enfants décident de contrecarrer ce qui se trame en utilisant leur ruse, leur ingéniosité et les outils et matériaux à leur portée.
Le lecteur suit avec délice l'élaboration du plan ainsi que sa mise en œuvre pour laquelle les enfants ont puisé dans leur connaissance des télénovelas et films d'aventure. Le monde ne se voit plus pareil lorsqu'on le regarde à travers les yeux d'enfants : tout devient aventure grandiose, sombre secret, dangers incroyables et courage inaltérable sauf quand des bruits inattendus se font entendre dans l'immense entrepôt. Ils découvrent un pan du trafic mis en place par les occupants soviétiques : l'exportation illégale d'oiseaux exotiques dont les perroquets, entassés dans des cages trop petites et condamnés à l'obscurité jusqu'au voyage vers d'autres cieux.
Le style poétique est rythmé, l'écriture mêle rigueur et humour ce qui est savoureux à lire. Les événements préparant la rénovation du quartier sont aussi l'occasion d'intégrer une partie de l'histoire de l'Angola, ses heurts et malheurs au fil des guerres et des révolutions.
On pense, forcément, à « La guerre des boutons » roman donnant la part belle à l'enfance. « GrandMèreDixNeuf et le secret du Soviétique » est dans la même veine : l'auteur chante l'enfance et ses cheminements qui ne sont ceux des adultes, l'enfance et sa vision du monde qui enchante une réalité loin d'être enchanteresse, il chante cette magie qu'a l'enfance pour colorer joyeusement le gris des jours et le noir du deuil.
Ce roman est lumineux et m'a fait oublier la triste réalité anxiogène due au satané virus qui pourrit nos vies depuis mars dernier.
Merci à Masse Critique et aux Editions Métailié pour cette jolie lecture et pour la découverte d'un auteur que je n'avais encore jamais lu. -
📖 Review AvóDezanove e o Segredo do Soviético, de Ondjaki
17/2021
Tudo o que Ondjaki toca, é poesia. Tudo o que ele pensa, é poesia. Tudo é sentidos e arrebatamentos sensoriais. Provavelmente, muito do que ele é, é poesia, mas a forma como vê o mundo, tem tanto de poética como de clarividente.
Este foi o segundo livro que li do autor e, após este segundo, tive a confirmação de que quero ler toda a sua obra.
Este é um retrato de quem conhece por dentro a História de Angola na década de 70 e 80. De quem conhece bem as influências e intervenções de Cuba e da União Soviética neste país africano. Os Botárdov e os médicos RafaelTruzTruz da vida angolana.
“ - E a paz existe?
- Ahn?
- É que tão toda a hora a falar na paz, mas que eu saiba a paz ainda não existe.”
Os livros de Ondjaki são sempre recheados de personagens tão vivas que é raro encontrar a mesma sensação em qualquer outro autor. Neste caso, além dos referidos, que caracterizam um espaço e um tempo muito próprios do país, temos aquelas avós, cheias de amor, AvóDezanove e AvóCatarina, que estão sempre lá, com o colo, o afecto e a preocupação de quem é Casa.
“Mesmo que não me vejas eu estou por perto. A vida também é feita de coisas que não sabemos explicar mas que estão sempre lá.”
E, claro, quanto mais livres as personagens, mais eu as elejo como predilectas. Desta vez, a minha personagem favorita é EspumaDoMar, a meu ver, o mais perspicaz, feliz e livre de todos.
“Na PraiaDoBispo muita gente tinha pena do EspumaDoMar, nunca entendi isso, pena porquê? Uma pessoa que toma banho todos os dias a rir(…), uma pessoa que fala cubano e sabe das estrelas do céu e das matemáticas do valor do Pi(…), uma pessoa com um jacaré na casota do cão, pode até ser uma pessoa feliz e só ele é que deve saber isso.”
E vocês, já leram algum dos livros da obra de Ondjaki? O que me aconselham? Já agora, se não leram, façam um favor à poesia dentro de vós, quer a vejam ou não, e leiam.
🎼 Para acompanhar a leitura aconselho playlist criada por mim, no @spotify, com o título do livro. Deixo-vos o link 👉
https://open.spotify.com/user/1112950... -
“Quando somos crianças o mundo fica bonito de repente”
No olhar das crianças, há essa imensa capacidade de ver muitas vezes o mundo como um lugar bonito. Mundo deste livro, o bairro da Praia do Bispo é um desses lugares tornados bonitos pelo olhar de uma criança. O tempo, esse, é o da Luanda dos anos 80, numa altura em que se arrasta a terrível guerra civil que desfigurou Angola. Porventura, nesta esfera dissonante e contraditória, residirá o que de mais fascinante há em “AvóDezanove e o Segredo do Soviético”: o contraste entre a lógica infantil e o ambiente hostil que se pressente por detrás da narrativa, a fantasia como forma de lidar com a realidade e exorcizar os muitos fantasmas que assomam do conflito.
Em “AvóDezanove e o Segredo do Soviético”, Ondjaki viaja à terra das suas infâncias, regressando prenhe de amigos, momentos, episódios, cheiros, linguagens. Conexões afectivas que não pode evitar e que nos são apresentadas sob a forma de memórias inventadas. Tal como a própria infância do escritor, tudo aqui é riso, escola, brincadeira, família, praia. Mas também Luanda, cubanos, soviéticos e tugas, o Mausoléu, as guerras, as tensões. E uma AvóAgnette com uma curiosa particularidade anatómica, também um maluco de nome EspumaDoMar e ainda um pescador com um BarcoÍris. Questões reais, depois ficcionadas e finalmente tratadas na lógica infantil das crianças, da qual emergem duas prioridades: a resolução imediata dos seus problemas e a fantasia.
É verdade que as pessoas procuram os livros mas não é menos verdade que há livros que encontram determinadas pessoas. “AvóDezanove e o Segredo do Soviético” encontrou-me. Nele reconheci a alegria e a tristeza, a utopia e o desencanto, a noite e o dia, o medo e a coragem. Com ele entrevi a linguagem de Luanda, as inúmeras palavras que estão constantemente a ser inventadas, o “botardov”, o “medalhov”, o “birô” político e um certo “tupariov” que me fez rir a bandeiras despregadas. Então reaprendi que, pelos olhos das crianças, o que é hostil, simplesmente, passa a ser doce, criativo, divertido. E voltei a ser criança! -
Mais um belo livro do Ondjaki, no seu já habitual estilo quase de fantasia. Apesar de o ter conhecido pela primeira vez há apenas dois anos, Ondjaki está rápidamente a tornar-se um dos meus escritores favoritos da língua portuguesa contemporânea. A sua escrita com um ritmo de aventura, as suas histórias quase-fantásticas tornam qualquer livro seu impossível de largar. Ao mesmo tempo, Ondjaki consegue retratar a sociedade angolana contemporânea de uma forma única.
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Around the World Reading Challenge: ANGOLA
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This was an interesting book and a quick read, but I don't think I quite *got* it. The combination of the magical realism (which I normally love) and the child narrator and it being a translation and the writing style in general all combined to make it all feel a little oblique. It took me awhile to really get into the groove of the story, and though I generally enjoyed it by the end, something about the style here didn't resonate with me. -
Aquilo que o Ondjaki me consegue sempre passar nas suas estórias é uma infinita ternura pelos "lugares assim dentro" que certamente povoam o seu imaginário com fragmentos de infância. Há muito carinho pelos locais e pelas personagens, sempre. E a escrita é do mais leve que há, mesmo ao abordar os grandes temas complexos: o amor, a morte, a saudade, o sentido das coisas... Adorei tudo neste livro, fez-me sorrir muito. Despeço-me com um "botárd" afetuoso.
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Depois de ver a adaptação cinematográfica de João Ribeiro, li agora o livro.
Muita inocência, leveza, cores e sonhos.
O filme é muito fiel ao livro, quer no argumento, quer na essência.
Muita ternura!