Collect Os Teclados Illustrated By Teolinda Gersão Depicted In E-Text

era um segredo . Ouvir era uma atenção absoluta às coisas, Tudo ficava suspenso no vazio, E depois o som acontecia: a chuva, o vento, o mar, O vento nas folhas
E mesmo o silêncio fazia parte de ouvir, Ouvir era deixar o mundo entrar em si,

Na música tudo estava ligado a tudo, a música era a arte de ligar.


Através da medida, o caos transformavase em cosmos, Através de uma regra interior, o universo escapava ao acaso, Havia uma relação entre a estrutura do cosmos e a da música, primeira música era a de cada planeta, O movimento dos planetas era música, a música era o princípio de tudo, . . cada corpo celeste possuía uma nota e um acorde específico, o conjunto traduzia a harmonia do universo.


Cada um estava só, pensou, Não havia respostas em nenhum lugar, Nem havia mestres, porque também não havia verdades, nem caminhos, Cada um tinha de ser o seu próprio caminho, Embora às vezes, fugazmente, as pessoas se cruzassem e esse era um instante fulgurante, como se uma luz se acendesse.
" A novela "Os Teclados", de, recebeu o Prémio Fernando Namora e o Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários.
Em muitos aspectos, e por vezes para meu espanto, vime na personagem principal, Durante muitos anos soube que este livro tinha a ver comigo, mas lêlo foi mais do que uma confirmação disto, o que já teria sido maravilhoso por si só.
Primeiro contato que tive com Teolinda Gersão: apaixoneime, A personagem principal pega o leitor pela mão e leva docemente pra dentro desse mundo que em todos nós tem algo da literatura.
Além disso, a metalinguagem na medida certa nos torna conscientes do texto como criação: ele nos puxa, mas não só como leitores ingênuos: forçanos a ver o teclado com a autora na frente.
horaslivro É uma bela novela, Gosto desse tipo de narrador próximo, mas com certa independência interessado pela personagem, com valores próximos, mas que não se confunde com ela porque ele abre espaço pro comentário, pra análise ou descrição e pro devaneio, que me interessa na ficção seja do próprio narrador, seja do leitor.


Achei a escritora sensível nas descrições de algumas cenas, nas análises de certos personagens e com uma perspicácia a reflexão sobre o ritmo, a qual se torna metonímia da busca do homem pela harmonia/ordem na sua existência, na história, no universo interior e exterior, na sociedade, na arte o que é sempre louvável.
Há, sim, algumas ingenuidades na forma ex, : "No entanto a vida não podia ser comprada, porque não tinha preço, " e, talvez, no ponto central do narrador sobre os acontecimentos do enredo,

Esse ponto está certamente na cena da entrevista da velha pianista para um jornal que eu adorei.
É mesmo uma variação daquele poema de Baudelaire "A viagem", no qual ele diz "Amargo saber, este que nos dá viagem! / Hoje, ontem, amanhã, o mundo, sensabor / E pequeno, nos faz ver a nossa imagem Num deserto de tédio, um oásis de horror!" mas, também, é nessa busca de sentido nesse "oásis de horror" imagem fabulosa, que se torna aventurosa a vida e a morte.
É nessa busca mesmo que mora o prazer, como medita a voz poética: "Mergulhar no abismo, Inferno ou Céu que importa , / E no Desconhecido para achar o novo!".


É quase isso que o narrador d'Os teclados nos diz:

O trabalho sobre o teclado era porventura a transcendência que restava Tudo se reduzia então a um mundo deserto, onde cabia no entanto uma exigência rigor que era uma forma de virtude, a sua forma de virtude como tinha dito a do outro teclado Podia aceitar que assim fosse, pensou olhando em volta as cadeiras desertas.
Aceitar o nada, o mundo vazio, E apesar disso, pensou levantandose e sentandose no banco apesar disso sentarse e tocar,


Ao aceitar o "mundo deserto/vazio" que é só metaforicamente, porque a beleza está exatamente em ocupar esse espaço, como reflete o narrador, o narrador parece admitir também que é possível haver ordem no mundo.
Dar sentido seria dar certa ordenação, Esse tipo de reflexão é feita por um personagem, inclusive, um professor de matemática, Chama de "pensamento dos Antigos", Há mesmo ordem interior/exterior É a prerrogativa clássica da antiguidade clássica, mais especificamente, Se há nobreza nessa busca, na ideia que é mesmo possível ordenarse a si e à sociedade, há também bastante barbárie.
Mesmo assim parece haver espaço ao contraditório, Quem sabe o narrador fosse um pouco ingênuo acho que é, ele tem certas sentenças bem ingênuas ou mesmo Júlia, já que a perspectiva estava focalizada nela quase constantemente quem sabe não foi essa construção ingênua que o preveniu de continuar a reflexão da velha pianista e do professor de matemática, de desenvolvêla numa
perspectiva à parte da de Júlia.


Mas, também gosto das assertivas, Do dar a cara ao tapa, Dos piparotes machadianos. Acredito mesmo que "ingenuidade" não seja lá a melhor palavra, Não me refiro à ingenuidade no seu aspecto amador, infantil, mas no seu ímpeto inconsequente, Porque o romance, à seu modo, abraça o contraditório, E Teolinda Garsão é qualquer coisa, menos amadora,

A música curava as almas porque as fazia regressar à origem, ao primeiro princípio, dizia Rogério Souto, voltando às citações.
Atravessar as esferas era despojarse, purificarse, ficar igual a um deus,
A música curava as almas, Ela também acreditara isso, Tentara curar o tio Eurico, prendelo de novo ao tempo, Mas ele permanecera desligado. Nunca iria voltar. Por muito que ela se esforçasse, nunca iria trazêlo de volta, Não tinha esse poder,
E a música também não tinha esse poder, Era tudo ilusão, pensou, O mundo talvez não fosse um cosmos, um universo ordenado, Provavelmente não tinha medida, nem escapava ao caos,
Ela caindo dos mundos, de esfera em esfera, presa por um pé, Descendo vertiginosamente através dos planetas, Em cada um uma sereia olhando,
Ela também não tinha medida nem fronteira, Estava presa à existência, mas não fixada nela, Ligada num só ponto, como uma folha num caule, Por isso vibrava excessivamente, ao menor contacto com as coisas, que acabavam sempre por triunfar sobre ela.

A do outro teclado tinha uma vida individual e pessoal, Mas ela vogava ao sabor do mundo, Nunca iria fixarse, porque uma vida única lhe pareceria sempre demasiado estreita,
TEOLINDA GERSÃO nasceu em, em Coimbra, Licenciada em Filologia Germânica e Doutorada em Literatura Alemã, com a tese Alfred Döblin: indíviduo e natureza, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Foi Assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Professora Catedrática da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa e Leitora de Português na Universidade de Berlim.
Autora de vários trabalhos de crítica literária, recebeu duas vezes o prémio de ficção PEN Clube, atribuído ao seu livro de estreia, O Silêncio, em, e ao romance O Cavalo de Sol, em.
Foi também galardoada com o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores eme, na Roménia, com o Prémio de Teatro Marele do TEOLINDA GERSÃO nasceu em, em Coimbra.
Licenciada em Filologia Germânica e Doutorada em Literatura Alemã, com a tese Alfred Döblin: indíviduo e natureza, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Foi Assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Professora Catedrática da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa e Leitora de Português na Universidade de Berlim.
Autora de vários trabalhos de crítica literária, recebeu duas vezes o prémio de ficção PEN Clube, atribuído ao seu livro de estreia, O Silêncio, em, e ao romance O Cavalo de Sol, em.
Foi também galardoada com o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores eme, na Roménia, com o Prémio de Teatro Marele do Festival de Bucareste adaptação da obra ao teatro com o romance A Casa da Cabeça de Cavalo.
Em maio de, o seu livro Histórias de Ver e Andar foi galardoado com o Grande Prémio do ContoCamilo Castelo Branco, da Associação Portuguesa de Escritores.
À edição inglesa de A árvore das palavras The Word Tree, Dedalus,foi atribuído o Prémio de Tradução.
A ficção de Teolinda Gersão desenvolve, na escrita contemporânea, uma poética romanesca original, abrindo a narração, a que o respeito pelas categorias de espaço, tempo, personagens, intriga confere certa verosimilhança, a uma irradiação de sentidos que decorre de um metaforismo assumido de forma estrutural pela narrativa.
Não que as personagens e as suas relações, os temas ou os seres se reduzam a um carácter alegórico: o que ressalta é que por detrás da "história" estão em conflito pulsões humanas universais, frequentemente centradas sobre a dinâmica dos opostos homem/mulher, caos/cosmos, racionalidade/loucura, entre outros.
A ilusão da transparência, obtida por uma ordem sintagmática nítida, pela simplicidade da frase, despojada de tudo o que é acessório, pela redução do número de personagens, pela simplificação da ação, confere, então, às suas narrativas o estatuto de uma escrita mítica, cujo objetivo não é a representação, mas o conhecimento.
Ao mesmo tempo, cada uma das suas narrativas, desenvolvendo até à exaustão algumas metáforas centrais o cavalo, o teclado, etc.
, desfibra todo
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o tipo de alienação social e mental subjacente à rutura dos princípios de harmonia invisível e de unidade íntima do homem com o universo.
Como a pianista e a romancista de Os Teclados, Teolinda Gersão, diante de um "mundo fragmentário" e "indiferente", onde "as pessoas não formavam comunidades e só havia valores de troca", um "mundo vazio", persiste em tentar desvendar enigmas, como se a escrita e a exigência de rigor fossem "a transcendência que restava": "Aceitar o nada, o mundo vazio.
E apesar disso, pensou levantando se e sentando se no banco apesar disso sentar se e tocar.
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